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A nossa aluna, Ana Carolina Bueno, participou de um projeto de iniciação científica sobre casos de desaparecimento de jovens e crianças, no Estado de São Paulo, que a levou a sonhar grande e a realizar! Ela e o seu grupo, do Colégio Lourenço Castanho, participaram da maior feira científica do mundo, nos Estados Unidos e, em 2019, vão para Abu Dhabi.

O projeto de iniciação científica surgiu devido à falta de visibilidade dada ao tema, a proximidade com a faixa etária do grupo com a dos desaparecidos e, principalmente, pela vontade de melhorar os processos de buscas e de formular políticas públicas efetivas.

Sobre a experiência nos EUA, Ana conta que a Intel ISEF é incrível e muito diferente quando comparada às feiras brasileiras, tanto em sua organização, quanto na forma de apresentação do projeto.

“Tivemos que traduzir todos os nossos materiais e apresentação, além de adaptarmos as falas”.

Após a participação na Intel SEF, as estudantes adquiriram mais experiências e melhores estratégias para apresentar o conteúdo do projeto para pessoas que não têm conhecimento sobre a sociedade brasileira e, por isso, as expectativas para Abu Dhabi estão altas.

“Espero que consigamos atingir os avaliadores e o público com a importância da discussão sobre o fenômeno do desaparecimento e da falta de políticas públicas voltadas à população que mais necessita da presença do Estado.”

Confira o nosso papo com a Ana!

ISMART:. Ana, o que levou vocês a escolherem esse tema? Como foi o processo de decisão? Você teve alguma experiência que tenha despertado o desejo de pesquisar sobre pessoas desaparecidas?

ANA CAROLINA:. No momento em que decidimos formar o trio (Clara, Beatriz e eu), o objetivo era trabalhar com políticas públicas, um assunto de muito interesse para nós e uma discussão muito possível dentro da Lourenço Castanho. Estávamos em dúvida entre trabalhar com saúde ou educação pública e, portanto, entramos em contato com nosso professor de história, Ednilson Quarenta, que tinha a proposta de realizar pesquisas na área de políticas públicas na cidade de São Paulo. Ao conversamos com ele durante o processo de escolha dos orientadores, fomos apresentadas a um documento chamado “Cartilha de Enfrentamento ao Desaparecimento”, formulado pela Prefeitura de São Paulo, em 2016, e que ainda não havia chegado às mãos da população, mas que tem como objetivo informar como ocorre o processo de busca dos desaparecidos aos familiares. Lendo aquele documento, nos deparamos com números absurdos sobre desaparecimentos: com certeza, o dado mais chocante foi que, entre os anos de 2013 e 2016, 17.939 pessoas desapareceram no Estado de São Paulo, sendo que 33% eram crianças e adolescentes de 12 a 17 anos de idade.

Os dados nos impactaram muito. Decidimos então trabalhar com este tema por conta da nossa proximidade com a faixa etária dos desaparecidos, pela falta de visibilidade (na mídia e também na sociedade) dada ao grande problema dos desaparecimentos, pela vontade de melhorar os processos de buscas e de formular políticas públicas efetivas que possam trazer mais segurança para a população mais afetada por esse fenômeno, a qual é formada por mulheres jovens vindas das periferias. Além disso, também houve uma grande aproximação com o tema por conta de estarmos estudando uma área de São Paulo em que eu moro (Campo Limpo, Zona Sul da cidade).

ISMART:. Nós sabemos, e pudemos perceber ainda mais com o seu projeto, que é muito grave o descaso e ausência de medidas efetivas no caso de adolescentes desaparecidos. Após a apresentação do seu trabalho, você viu algum serviço efetivo acontecendo?

ANA:. Durante o deenvolvimento do projeto, entramos em contato com uma representante do Ministério Público do Estado de São Paulo, que trabalha com casos de desaparecimentos de crianças e adolescentes e se interessou muito em nos ajudar a obter acesso a informações essenciais para a pesquisa, e que são muito precárias na internet. Após a finalização do projeto, entregamos o material estudado para esta representante, que fez parte da nossa banca final (em que ocorre a finalização dos projetos científicos dentro da Lourenço Castanho), mas não obtivemos nenhum retorno sobre a discussão que propusemos ou sobre propostas de aplicação de políticas públicas efetivas dentro da região estudada.

ISMART:. Na sua opinião, qual é a importância da ciência na discussão e resolução de temáticas como essa?

ANA:. A ciência, ainda mais produzida por jovens, é de extrema importância para buscar solucionar problemas em todas as áreas de conhecimento. No caso das ciências sociais, acredito que exista uma maior facilidade entre os jovens cientistas em conseguir identificar não apenas uma, mas, sim, as diversas raízes que causam o mesmo problema dentro da sociedade. Estudar qual é o problema, seu histórico, qual parcela da sociedade é atingida por ele, identificar qual órgão deveria estar se responsabilizado por tais fenômenos e, ainda, criar maneiras eficientes e inovadoras que possam diminuir, ou mesmo erradicar, esses problemas sociais.
No caso da nossa pesquisa, foi de extrema importância termos trabalhado com um tema que não faz parte das discussões cotidianas, apresentá-lo para diversos públicos e discutir com pessoas de diferentes posições sociais sobre a realidade da população periférica que sofre com os casos de desaparecimentos de adolescentes, já que tivemos a oportunidade de juntarmos a vivência e o conhecimento científico em busca da melhoria de uma realidade que, atualmente, encontra-se precária.

ISMART:. Como foi a experiência de apresentar o seu trabalho na Intel ISEF 2018 e quais são as suas expectativas para o ano que vem em Abu Dhabi?

ANA:. A experiência da Intel ISEF é incrível! Tanto em questão de ter seu projeto reconhecido na maior feira científica do mundo, mas também por ter a oportunidade de vivenciar uma feira com pessoas de diferentes nacionalidades, com trabalhos muito diversos e inovadores dentro da ciência.
A Intel ISEF é muito diferente quando comparada às feiras brasileiras, tanto em sua organização, quanto na forma de apresentação do projeto. Tivemos que traduzir todos os nossos materiais e apresentação, além de adaptarmos as falas. No Brasil, os avaliadores conhecem o seu trabalho a partir de sua apresentação e sua dinâmica com os materiais produzidos, assim dando uma maior liberdade aos cientistas quanto ao tempo de fala e o estilo de apresentação. Já na ISEF, existem regras bem definidas. Nós recebemos a organização com os horários em que cada avaliador verá nossa apresentação no início do dia de avaliações, sendo que estes já haviam visto nossos materiais e lido nosso relatório na noite anterior; assim, a apresentação tem apenas quinze minutos e acaba sendo mais um “bate-papo” para tirarmos dúvidas pontuais dos avaliadores.

Sobre a apresentação do nosso tema, percebemos que houve uma certa dificuldade dos avaliadores em entender como o fenômeno do desaparecimento se dá no Brasil, já que é muito complicado adaptar uma visão estadunidense a um problema social brasileiro, muito específico de uma certa região e organização social da cidade de São Paulo. As perguntas acabavam sendo mais direcionadas à metodologia do que à temática do projeto, mesmo que houvesse interesse e tentativa de compreensão por parte dos avaliadores.

Em relação a Abu Dhabi, espero que consigamos atingir os avaliadores e o público com a importância da discussão sobre o fenômeno do desaparecimento e da falta de políticas públicas voltadas à população que mais necessita da presença do Estado. Acredito que após ter passado pela experiência de uma feira no exterior, como a Intel ISEF, nós conseguiremos desenvolver melhores estratégias para apresentar esse conteúdo para pessoas que não têm conhecimento sobre a sociedade brasileira. Além disso, tenho certeza que será uma experiência enriquecedora conhecer outras culturas e projetos de jovens cientistas que podem mudar a realidade da nossa sociedade.

 

Assista ao vídeos feitos pela FEBRACE na Intel ISEF 2018:
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