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Dona Roseane não acreditou quando recebeu a notícia. Suas pernas tremiam e as lágrimas não paravam de cair, mas João Antônio, seu filho, só sorria, daquele jeito calmo que sempre teve. Ela lembrou de quando saiu de Parazinho, no Rio Grande do Norte, com o bebê de um ano para tentar uma vida melhor no Rio de Janeiro. E também recordou quando três anos antes recebera a ligação de uma professora do Colégio de São Bento dizendo que, após um ano de dupla jornada, João tinha sido aprovado para cursar o ensino médio em uma das escolas mais prestigiosas da capital carioca.

“As pessoas não entendem a minha emoção, mas quando saí de casa, eu tinha um só objetivo, que era criar meu filho. O que eu nunca pensei é que ele chegaria tão longe”, diz emocionada.

Naquele dia, Roseane Lima soube pelo filho que ele tinha ficado em primeiro lugar na seleção do ProUni. Cursaria Direito na PUC-Rio.

João Antônio Lima da Silva tinha apenas 11 anos quando a inspetora da Escola Municipal Cardeal Leme, em Benfica, zona norte do Rio, perguntou se ele não queria concorrer à bolsa do Ismart. Mesmo sem conhecer o projeto direito, ele topou. A cada nova etapa do processo seletivo, ia aprendendo um pouco mais e descobrindo as oportunidades que poderia ter. Selecionado para o Alicerce, começou a jornada que culminaria na realização de um sonho – dele e da mãe.

“A primeira vez que entrei no São Bento foi para provar o uniforme. Não tinha visto nem o colégio todo, mas fiquei impressionado. Pouco tempo depois, percebi que havia uma diferença estrutural em relação à escola pública, mas não entre as pessoas. Se me esforçasse, poderia chegar a qualquer lugar, como todos os outros alunos.”

E o esforço não foi pouco. Dona Roseane se lembra de chegar em casa – ela trabalha como diarista – e ver o filho dormindo de uniforme e tudo. Além da rotina de estudos pesada, João tinha que lidar com o cansaço do trajeto entre sua casa e o colégio. Entre os professores do São Bento, era claro que o menino chegaria longe.

“Ele sempre seguiu no ritmo de quem sabia quem era. Um aluno que não dava trabalho, mostrava ter muita garra e nenhum desânimo”, lembra Sônia Gaeschlin, professora de francês.

A facilidade com as matérias de humanas pavimentaram o caminho até o curso de Direito, mas João contou com a ajuda do Ismart para definir como poderia atuar na área.

“Ele tem um senso de justiça muito poderoso, quer transformar a sociedade em algo mais justo, e quer trabalhar para isso acontecer”, diz o psicólogo Bruno Oliveira, que o acompanhou durante o 3º ano do ensino médio.

É por este motivo que João pensa hoje em ser um defensor público, para ajudar quem não tem condições financeiras de ter um advogado e, sem proteção, acaba injustiçado.

“Ele é muito sensato e tenho certeza que sabe o que quer. Às vezes fico em casa imaginando como vai ser quando ele estiver advogando. Já conto os dias”, diz dona Roseane.

No dia em que recebeu a notícia de que havia passado no vestibular, o jovem não pensou em muita coisa, só que deveria contar para a mãe.

“Não fiquei deslumbrado”, diz João. “Sinto responsabilidade, isso sim. Cabe a muitos de nós, alunos do Ismart, quebrar o ciclo de pobreza da nossa família. Mas levo isso como uma motivação, e não como um peso na minha vida.”

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