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Por Abidan Henrique

Nos dias 5, 6 e 7 de abril o ISMART me concedeu a oportunidade de participar da “Brazil Conference 2019 at HARVARD & MIT”– evento que tem como objetivo discutir os problemas e desafios do Brasil. Essa experiência só foi possível graças a parcerias que acreditam no trabalho e no compromisso do Ismart com a educação e, também, que as boas oportunidades catalisam a promoção social. Compartilho com vocês a experiência, não apenas para contar como foram as palestras, pois elas estão gravadas no site do evento (https://www.brazilconference.org/) , mas porque pude aprofundar em duas reflexões que me acompanham faz algum tempo. E antes que perguntem, todas as palestras que tive oportunidade de assistir, me ajudaram a chegar até aqui e saber exatamente para onde eu QUERO voltar.

Primeiro, fui com o objetivo de me conectar com o maior número de pessoas possível. Desde os palestrantes mais famosos até as pessoas comuns que estavam assistindo ao evento como eu. O nome disso é “networking”. Tive oportunidade de conversar com vários representantes da política brasileira, estudantes de Harvard, Columbia e CEOs de empresas.

E por que isso é importante, Abidan? Te respondo. Nós que viemos de periferia não temos uma rede de contatos “desse mundo”. Me refiro a rede de Harvard, do MIT, de grandes empresas, da política e do meio acadêmico. E, infelizmente, são nesses lugares que decisões são tomadas e, por isso, é importante conhecermos essas pessoas e essas pessoas nos conhecerem. É importante dar um “oi”, se apresentar e chamar para tomar um café. Nós temos muito a aprender e a ENSINAR a elas.

A outra reflexão que queria fazer é sobre como lidamos com esse outro mundo de oportunidades que temos acesso. No fim do segundo dia de evento, eu e mais dois amigos que também vieram de periferia, (um deles negro também) comentamos de como nos sentíamos estranhos naquele ambiente. Afinal, parecia que estávamos em um filme. As pessoas em sua maioria eram brancas, loiras, altas, olhos claros, outros estilos, outras conversas e até as piadas eram diferentes. De fato, outro planeta.

Não sei para vocês, mas pelo menos para mim, estar nesse outro ambiente as vezes frita a minha cabeça. Não paro de pensar que enquanto eu estou em um quarto de hotel bacana em Boston (com banheira e tudo), comendo café da manhã com sucrilhos coloridos, minha família e meus amigos estão no Caputera – bairro da região de Embu das Artes, onde a estrada ainda é de terra, o ônibus ainda demora para passar e onde a rua ainda não tem iluminação. Dói meu coração.

Hoje, o que me conforta é entender que esse planeta não é meu de origem. Não nasci ali. Mas assim como um astronauta, estou explorando para ver se consigo conhecê-lo melhor para tentar dialogar com esse nosso lugar!

Feito o meu desabafo, o que eu tiro dessa situação é: embora seja difícil, ocupe esse espaço de poder e privilégio. Se existe a mais remota chance de você jovem, negro, periférico de estar nesses eventos, na faculdade ou de conseguir um emprego, agarre essa oportunidade e não largue! O Kayne West tem uma frase que ele fala que o sistema só vai mudar quando nós formos dono dele. E esse é o momento. Momento de ocupar e virar dono das coisas, ser protagonista da nossa própria história!

Mas, não posso terminar esse texto, depois de dizer para você fazer networking e ocupar os espaços, sem dizer que se você fizer isso tudo, for bem-sucedido e não compartilhar ou utilizar do seu privilégio nato ou conquistado para dar acesso de alcance às minorias, não vai ter valido de nada esse esforço! O Emicida fala assim: se o triunfo não for coletivo, ele é do sistema, ou seja, se nós tivermos sucesso, mas não conseguirmos trazer conosco mais “gente como a gente” para essa posição de sucesso, nós só estaremos propagando a lógica individualista do nosso sistema. Em resumo, não esqueça de onde você veio. Depois que você voltar de Boston ou da sua faculdade. Você volta para sua quebrada e, eu volto para o Caputera.

Confira alguns dos meus encontros na Brazil Conference 2019 at HARVARD & MIT” 🙂