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Por: Emília Guilhermina Fonseca

Quando cheguei em Harvard, todas as construções pareciam fantásticas, mas não no sentido do senso comum da palavra, e sim, no sentido da magia. A arquitetura, as cores, as pinturas, os vitrais, todos os detalhes me tocavam de uma forma inexplicável e não deixavam a ficha cair, a ficha de que eu realmente estava lá.

Mas o Annenberg Hall foi diferente. Ao entrar no salão, eu fui atingida pela grandiosidade do lugar, pelas grandes mesas de madeira, pelas pinturas e pelo enorme vitral, o qual, durante a passagem da luz, me trazia um senso de, sem exageros ou invenções, encanto, e um estranho conforto.

E eu tive a oportunidade de entrar nesse mesmo lugar e ter as mesmas sensações todos os dias do programa, em todas as refeições. Além dos elementos físicos, o salão me tocou de uma forma afetiva que eu não esperava. As longas mesas precisavam ser compartilhadas para que atingissem sua capacidade máxima e cumprissem sua função em completude, e dessa forma eu fui capaz de conhecer pessoas e histórias que eu nunca mais vi ou entrei em contato, além de poder aprender ainda mais sobre aquelas com as quais eu tinha contato diariamente nas minhas aulas ou no dormitório.

Constantemente julgávamos a comida servida no hall, e, apesar de não gostar muito de alguns pratos típicos de vários países diferentes, não reclamava da pancake ou da french toast que eu comia com calda em todos os cafés da manhã. Foi muito interessante a experiência de comer pratos de diversos locais, por mais que nem todos me agradassem.

Naquele local todos desabafávamos as agonias das muitas horas de atividade de casa, do cansaço, das poucas horas dormidas e como a falta de costume em ficar sem os pais e ser responsável pelas suas coisas e pelos seus horários nos afetava, ao mesmo tempo em que compartilhávamos o quão incríveis foram as aulas, as novidades e como as atividades extras fora de sala foram legais.

Particularmente, eu contava como antes do programa eu achava que dominava a leitura em inglês, mas encontrei uma significativa dificuldade ao ler por volta de cem páginas diárias de textos acadêmicos sobre democracia, desenvolvimento e violência, tema do meu curso e que, apesar disso, as aulas eram fantásticas, considerando a infraestrutura, o professor, e o material. Também falava como, diferentemente do que eu pensava antes, esse não foi um curso que adicionou algo ínfimo pra minha vida, mas sim uma experiência que contribuiu muito pro meu repertório pessoal e vai ter consequências positivas no âmbito acadêmico. Eu escolhi esse curso sem altas expectativas, esperando apenas testar meu gosto por Ciências Políticas e ter mais conteúdo pra avaliar se é essa a profissão que eu quero seguir fora do país, mas acabei aprendendo e tirando muito mais dessa experiência do que eu esperava.

Em Annenberg também falávamos que estávamos em Harvard. Óbvio? Era preciso verbalizar pra acreditar, até porque, diferentemente do que eu esperava, a maioria dos alunos via a universidade da mesma forma que eu, intocável, utópica, arrisco dizer icônica, e não como um programa acessível e trivial no qual qualquer pessoa conseguiria ser aprovada e a infraestrutura e o ensino seriam menos do que excelentes. Porém, aos poucos fomos nos habituando a estarmos lá, e o Annenberg Hall foi um grande responsável por isso.