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Por: Filipe Vieira

Não sei por onde começar com a descrição da minha experiência. Talvez desde a partida do aeroporto – No momento em que disse adeus para meus pais e tia, e voltei-me para a fila à minha frente, percebi algo que nunca me ocorreu antes: Eu estava sozinho. Era eu o responsável pela minha vida; Meus pais não estavam ao meu lado para me acolher caso algo desse errado, nem para me indicar o que fazer, quando fazer, e como fazer – A responsabilidade recaía sobre mim. Depois desse choque de realidade, contemplei minha jornada até agora, mesmo antes de entrar no avião. Como esperado de um ismartiano*, nasci em uma família humilde, e fui treinado por meus pais a apreciar tudo o que tenho, não ficando invejoso daqueles que possuem mais fortuna ou bens do que minha pessoa, porém, nunca deixando de sonhar. E agora, estava prestes a entrar num vôo que realizaria um de meus sonhos. Continuava a não entender a seriedade da minha conquista, mas quando pus meus pés no avião… Percebi que era realidade.

Os vôos passaram rápido – na primeira escala que fiz no Panamá, conheci Gustavo, o ismartiano paulista que, comigo, passaria três semanas em Duke University. Devido à aura amigável e positiva que ambos emanávamos, agimos como se nos conhecêssemos há anos, tornando-nos amigos em pouquíssimo tempo. E quando finalmente chegamos na universidade, foi um verdadeiro choque.

Em primeiro lugar, não era mais português que saía das bocas das pessoas aleatórias pelas quais passava – era inglês. Em segundo lugar, as pessoas não agiam como agem os brasileiros – costumes, hábitos e formas de falar eram impossíveis de traduzir. E, finalmente, eu estava longe de tudo aquilo que conhecia – minha família, minha casa, meus amigos, minha escola. Mas isso não foi abalador – Fiquei ansioso para experimentar tudo de novo que viria. E como experimentei!

As aulas falavam de dicas e avisos sobre como agir em cenários profissionais. Como ganhar um PHD, como realizar uma pesquisa científica, como criar um pôster eficaz e chamativo… Mas elas não foram o que importaram mais para mim. Foram as pessoas que conheci, os amigos que fiz, que deixaram eternas marcas na minha vida, apesar do curto período de tempo que passamos juntos. Conheci chineses, australianos, venezuelanos, paquistaneses, indianos, estadunidenses – e até mais brasileiros! E entre eles, estavam músicos, editores, cantores, dançarinos, desenhistas, matemáticos, leitores, críticos, sonhadores… Todos tão diferentes, mas unidos pelo destino gerado por nossas aspirações e esforços.  Com meus amigos, dancei, cantei, brinquei, conversei. Descobri novos jogos, novas brincadeiras, novas perspectivas de vida. Descobri novas paixões por coisas que antes nunca considerava relevantes, e aprendi a apreciar aquilo que nunca dava olhos ou ouvidos.

Visitei muitos lugares pelo campus. Um centro de reserva de lêmures, um de pesquisa de câncer, um de pesquisa ambiental, um hospital extremamente avançado, uma planta de água, um centro de realidade virtual. Porém, no meio do programa, houve um dia de tristeza – Gustavo, o amigo ismartiano que conheci, teve que ir embora para seguir com suas próprias aspirações. O  que todos sentimos naquele dia só nos preparou para o dia final – quando todos partimos. Foi um triste dia, repleto de “adeus”. Tive que partir caminhos com os amigos, professores, profissionais e aulas que conheci nessas três maravilhosas semanas. Continuo a ter seus contatos em minhas redes sociais, mas as conexões humanas que tivemos não são replicáveis pelas telas de computador. Queria que durasse para sempre. Todavia, não devo olhar para o passado – O que importa é o que eu posso modificar, isso é, o futuro.

Minhas experiências me marcaram, e pude marcar a vida de outros, também. Aprendi sobre novas culturas, línguas, sobre mim mesmo e a ser mais responsável. Levarei essas memórias inesquecíveis comigo, para me impulsionarem a continuar a seguir em frente ao meu futuro – após realizar esse sonho, percebi que sou capaz de muito mais do que  esperava de mim mesmo. Eu sou forte. Eu sou ismartiano. Se eu botar minha alma e corpo em algo, não tem erro – Se consegui chegar aqui, significa que posso ir muito mais além. E essa foi a lição central que extraí disso – Não basta querer, é necessário seguir em frente. Eu sou o protagonista de minha própria história; Não devo me contentar com que é fácil de obter, devo ter garra! Devo aspirar! Sonhar! E, acima de tudo – Correr atrás. Afinal, corujinha que não sai do ninho nunca aprende a voar!