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A História de Sucesso de hoje conta a trajetória linda da Patrícia Aguiar. Formada em Engenharia Ambiental pela USP e atualmente ocupando uma posição de destaque no mercado de trabalho, ela deixa claro que, apesar das muitas conquistas, o caminho percorrido até aqui não foi fácil. 

Sua família, original da Bahia, veio para o estado de São Paulo em busca de melhores oportunidades de trabalho antes dela nascer, em São Bernardo do Campo. Tendo passado sua infância em Taubaté, a jovem paulista começou a trabalhar desde nova para aliviar as despesas em casa. 

Sempre muito dedicada e apoiada pelos pais a focar nos estudos, foi na transição para o Ensino Médio que precisou tomar a decisão que transformou a sua vida e a de sua família: a de entrar para o Ismart. 

Confira agora a entrevista de Patrícia:

Como foi o seu caminho até aqui?

Minha família, meus pais e avós moravam todos na Bahia em uma cidade pequenininha, bem na roça. A energia elétrica chegou lá faz cerca de dez anos, então meus pais cresceram trabalhando em um contexto rural desde crianças. Eles vieram pro sudeste tentar uma uma vida melhor. Meu pai tornou-se metalúrgico e foi mudando de cidade até chegar em São Bernardo do Campo, onde eu nasci. 

Em 1988, com semanas de vida, vim para Taubaté com minha mãe, meu pai e minha irmã. 

Nosso pai nos protegeu bastante dos perrengues para que a gente continuasse estudando. Minha irmã começou a trabalhar com catorze anos, pois meus pais não tinham muita condição e uma coisa parecida aconteceu comigo também. Quando eu tinha uns treze, quatorze anos, fui fazendo bicos aleatórios para ter alguma renda. Minha mãe tentou uma bolsa em um curso de inglês e parte do combinado para conseguir era que eu trabalhasse na escola. 

Já fui aquela pessoa que segura placa no lançamento de prédio, já fui aquela pessoa que andava pela cidade inteira para vender Avon… Então a gente foi se virando ao longo do tempo, mas com um foco muito grande da minha mãe e do meu pai em manter a nossa educação.

Eu sempre estudei bastante, fui uma aluna dedicada, com interesse e alguma facilidade nas matérias. 

Antes do ensino médio, na escola municipal que eu estudava em Taubaté, recebi um flyer dizendo que o Colégio Embraer estava chegando em São José. Então, precisei tomar uma grande decisão, entre ir para o Colégio Embraer ou permanecer em Taubaté, na escola municipal, sendo que eu já estava matriculada no SENAI, para o curso de mecânica de usinagem. 

Estava muito animada para trabalhar na indústria e atuar em alguma que ficasse na minha região. Porém, decidi ir pro colégio parceiro do Ismart e fui muito feliz lá nos três anos de ensino médio. No fim das contas, fui aprovada para todos os vestibulares que eu prestei em vários cursos diferentes.  

Você participou de qual programa Ismart?

Eu entrei no Ismart no Projeto Bolsa Talento no fim de 2005 para 2006, e depois fiz parte do Projeto de Ensino Superior. O meu colégio na época recebeu uma visita da pessoa do Ismart e eles estavam convidando alguns alunos para participar do processo seletivo. Na época, quatro pessoas da escola passaram e eu fui uma delas. Essa foi a minha entrada no Ismart. 

O Instituto na época foi um viabilizador para mim. Se eu não tivesse contato com o Ismart talvez eu não tivesse conseguido realmente ir para São Paulo e estudar na USP, que foi a faculdade que eu escolhi.  

As pessoas falam que é difícil estudar fora porque é muito caro, enquanto eu estava tentando sair de Taubaté e ir para São Paulo estudar. Eu sei que se eu tivesse exigindo muito dos meus pais, estaria tirando dinheiro de coisas básicas. Meu pai já não era tão jovem e ainda trabalhava aos sábados e feriados para fazer as contas fecharem. Então, manter mais uma casa não era uma possibilidade. O Ismart então veio para de fato viabilizar os meus estudos em São Paulo e eu sou eternamente grata por isso.

Em relação ao seu desenvolvimento pessoal, como foi a experiência de ser uma Bolsista Ismart?

Na época eu usufrui de algumas benesses do Ismart: terapia em grupo, que foi muito interessante e acabou sendo o primeiro contato que tive com terapia. Rolaram várias conversas quando eu estava decidindo qual Engenharia eu ia seguir. Estava na dúvida se seguiria para Engenharia Ambiental ou Engenharia Civil. Isso porque, na época que eu entrei na Poli (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), a gente escolhia a especialização depois de um tempo de curso. 

O Ismart teve bastante participação na ajuda da escolha do curso e na parte financeira foi super importante para mim. Anos depois eu ganhei um mentor super massa, e me lembro que na época eu consegui sair um pouco mais da minha zona de conforto, consegui falar mais com os meus amigos e falar um pouco mais sobre carreira. Então, o Ismart foi super importante para mim na época da universidade. Eu sinto que poderia ter usufruído ainda mais.

De que forma a vivência em uma escola de excelência influenciou suas escolhas profissionais?

Ter vivido numa escola de excelência foi uma linha divisora da vida. O meu sonho de vida profissional na época quando eu estava fechando o Ensino Fundamental era fazer SENAI, mecânica de usinagem. Já estava até matriculada. O plano era fazer o ensino médio noturno, na melhor escola que desse, e trabalhar, provavelmente, em umas dessas grandes empresas que existiam perto da minha casa em Taubaté.

Claro, nada contra essas profissões todas, mas quando eu fui pro colégio da Embraer o mundo se abriu para mim. Foi a primeira vez que eu escutei que poderia fazer uma universidade fora de Taubaté. Estudar fora do Brasil? imagina, ninguém nunca tinha me falado desse ponto e eu nem pesquisado sobre isso, então para mim foi uma abertura de mundo muito grande e isso muda muito a maneira como você pensa, como você enxerga o mundo, as pessoas, suas relações e principalmente você mesmo, você enxerga que pode fazer mais. O colégio fez um trabalho muito grande com os jovens e comigo. 

Depois, quando fui para a Poli (que é um segundo grande salto para mim) é que eu vejo que realmente dá para fazer muito mais em termos de trabalho. Eu conheci um padrão de vida que eu não conhecia. Comecei a ver que as pessoas realmente conseguiram chegar muito longe com as oportunidades que elas tiveram e que daria para fazer uma carreira de sucesso a partir do que eu iria construir na faculdade. Então, o ensino de excelência foi completamente o divisor de águas. 

Além disso, tem uma questão importante, que é a referência: às vezes meus pais não conseguiam me dar uma referência de possíveis carreiras que eu poderia seguir, tipo de cargo, função, projeção, salário, enfim. Então essa construção das minhas referências foi super importante. Eu até comentei do meu mentor do Ismart, que fez um pouco disso também, junto dos psicólogos. Eu discuti minha carreira no começo da Poli. Então, devo muito do que eu conquistei até hoje, até onde eu cheguei, à essas conversas e aumento de visão de mundo e criação de referências que fui tendo entre o ensino médio e faculdade.

Você enxerga que a sua experiência no Ismart afetou a vida das pessoas à sua volta?

Minha mãe era dona de casa, depois ela foi trabalhar em uma confecção. Meu pai foi pedreiro a vida inteira, era muito inteligente, mas nenhum deles tinha finalizado a escola. Minha mãe finalizou o ensino fundamental e médio depois que eu já estava na faculdade, mostrando que essa coisa de dar o exemplo contagia. 

O exemplo acaba contagiando as pessoas em torno do bolsista Ismart, eu tenho certeza disso.

Recentemente, minha mãe comentou comigo que tem vontade de voltar a estudar. Eu acho que tem um fator ali de de olhar para minha trajetória, que teve tanto apoio e tanta confiança de várias pessoas que através da educação conseguiram mexer os ponteiros para mim, que isso eventualmente pode ser uma verdade para ela também. Então, eu fico muito feliz de ver o poder do exemplo. 

Eu converso com as pessoas para de fato tentar ajudar, inspirar, falar sobre carreira e aumentar o horizonte da pessoa. Fico muito feliz. Acho que tem esse efeito multiplicador, de alguma forma, e muito pela inspiração e criação de referência. Se você não tem referência, você talvez acabe sendo a referência para outras pessoas que estão no seu círculo próximo, e foi isso que aconteceu comigo.

Qual é seu sonho grande?

Essa é uma pergunta muito doida, sabe? Eu inclusive faço ela hoje em dia para seleção de bolsas lá na Fundação Estudar, onde eu trabalho. Me perguntaram esses dias se eu lembrava o que tinha respondido quando alguém me perguntou qual era meu Sonho Grande, lembrava muito claramente quando alguém me perguntou durante o processo seletivo do Ismart. Eu respondi que eu queria dar uma condição de vida melhor pro meu pai e para minha mãe. 

Recentemente, mudei minha mãe para um apartamento. Por várias questões, tirei ela da casa que a gente morou a vida inteira, mas também, para uma mudança de ares e porque eu acho que é uma condição de conforto melhor. 

Depois de tantos anos, lembrei que aquele Sonho Grande de 2007, de alguma forma, está se realizando aqui. Então, se fosse olhar para 2007, eu falaria que eu cheguei nesse ponto específico. Mas, para frente acho que tenho muitos sonhos do ponto de vista de carreira, como estar à frente de alguma organização relevante pro Brasil. Penso em um cargo estratégico, como cargos de diretoria executiva ou presidente. 

Esse caminho eu estou traçando agora, pois já são três anos e oito meses na Fundação Estudar, depois de nove anos na Ambev, então, quando me perguntam quanto falta para realizar, acho que falta um pouquinho ainda. Falta repertório e bagagem para conseguir ser mais um agente de mudança e também repertório do ponto de vista técnico para conseguir ser uma liderança inspiradora para o time e para o jovem de maneira geral. 

Do ponto de vista do desenho de carreira eu me achei trabalhando com educação e fico super feliz com isso. Inclusive, estou no terceiro setor, feliz também, depois de tantos anos na iniciativa privada. Entendo que o meu lugar é de fato conseguir potencializar o impacto meu e de outras pessoas. 

Então, respondendo a pergunta, acho que falta um bocado. Falta bastante, mas eu tenho certeza que eu tô trabalhando nessa direção todo dia.

E para o futuro, como quer contribuir para transformar a vida das pessoas e contribuir com um mundo melhor?

Já faz mais de cinco anos que eu percebi que o que eu realmente quero é trabalhar com educação. Decidi que eu precisava migrar minha carreira para esse lado, então é nisso que estou trabalhando. Quero ajudar de alguma forma que pessoas tenham mais referências, mais condições de encontrar um trabalho legal e que mais pessoas tenham acesso a um ensino de excelência, que é minha unidade de negócio na Estudar, local onde eu trabalho há mais tempo. 

É importante para mim sentir que estou fazendo diferença na vida das pessoas. Nos programas de bolsa que cuido, impacto diretamente cerca de cem pessoas no ano com o nosso trabalho. Fico feliz com a possibilidade de transformar a vida de cem estudantes e suas famílias, é por isso queestou trabalhando. Entendo que esse é o jeito que eu vou contribuir para a construção de um Brasil melhor, através da educação.

Hoje em dia meu pai é falecido, então o presente é conseguir ajudar a minha minha mãe a ter uma uma vida feliz e o mais confortável possível. No fim do dia, como é através do trabalho que a gente vai conseguir de fato transformar o Brasil, tenho dedicado a minha vida no terceiro setor e educação.

Qual conselho você deixa para as pessoas jovens que se inspiram na sua trajetória?

Eu tenho dificuldade de me ver como inspiração para outras pessoas, sou super tímida. Eu prefiro entender que eu posso ser a referência que eu não tive. É claro que vamos sofrer mais do que muitas outras pessoas que partiram de uma condição melhor do que a gente, mas também podemos e devemos ocupar os espaços. Esse espaço também é para a gente. 

Além disso, tem a questão do pertencimento, que é um desafio dobrado para todo mundo, mas, pelo menos nós temos o Ismart, um lugar para voltar, para discutir os nossos problemas. Tem um monte de gente parecida com a gente passando pelas mesmas coisas e a gente consegue, não tem nada que nos pare. 

Outro conselho é usar as redes de apoio. Devemos procurar os bolsistas do Ismart, e procurar o instituto em si. Pensando aqui, acho que a gente nunca vai ter uma equipe tão forte e tão boa querendo simplesmente nos ajudar a voar mais alto. Então, é procurar não ser passivo nessa história.

Se a gente quiser fazer uma coisa grande para gente ou para os outros, para a família, para o Brasil, para a cidade, enfim, para o mundo, não vamos fazer sozinhos, então por que não usar essa rede de gente boa para pedir apoio? Isso faz muita diferença no ponto que você pode chegar e também no caminho, que pode ser muito melhor e mais fluido. Você pode, mas não precisa passar por isso sozinho.

Curtiu a entrevista com a Patrícia? Confira outras Histórias de Sucesso aqui no Blog do Ismart!

 

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